A Ucrânia tornou-se um dos principais destinos de pais e mães em busca de barriga de aluguel devido ao preço atraente – quase metade do valor cobrado em outros países. Atualmente, mais de 15 casais de estrangeiros vivem momentos de tensão em Kiev – capital da Ucrânia – ao buscarem seus filhos gerados em barrigas de aluguel.
A prática de barriga de aluguel – ou gestação de substituição – só é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) quando não possui fins lucrativos. Em caso de parentesco de até quarto grau entre a gestante e o casal ou a pessoa que ficará com o bebê, não é necessária autorização. Se não houver parentesco entre as partes, é preciso que a gestação seja autorizada pelo Conselho Regional de Medicina (CRM).
Em contrapartida, diversos países permitem legalmente o procedimento de barriga de aluguel com fins lucrativos – inclusive para estrangeiros. Em entrevista, a administradora Camila Pavan, de 34 anos, teve sua filha gerada por barriga de aluguel em Kiev. Ela tem distrofia muscular, o que impede uma gestação tranquila.
Antes de contratar uma barriga de aluguel em outro país – já que no Brasil esse tipo de gestação é proibida – eles tentaram uma barriga solidária com uma parente, mas não deu certo. Segunda ela, como é a opção mais barata, a Ucrânia é o país mais procurado por brasileiros.
“O processo de barriga de aluguel na Ucrânia ainda não é muito conhecido, mas é o mais acessível. Esse é um processo que realiza o sonho de milhares de casais. Eu fui para a Ucrânia em 2019 para dar início ao procedimento, após alguns meses fui buscar a minha filha no meio da pandemia”, apontou.
Mesmo no Brasil, eles acompanharam os ultrassons, as informações das medidas do feto e fotos que vinham da clínica de Kiev. O investimento para a realização do sonho do casal brasileiro girou em torno de R$ 250 mil, pagos ao longo da gestação, enquanto em outros países esse valor pode mais que dobrar.
Camila acredita que a barriga de aluguel acaba sendo vista como a única alternativa para muitas pessoas. A pequena Pietra saiu do hospital com a documentação ucraniana, incluindo a certidão de nascimento do país, em seguida foram tirados os documentos do Brasil.
“Quem escolhe a barriga de aluguel já passou por inúmeros tentativas e frustrações, fiz tudo que estava ao meu alcance para ter a minha filha e não me arrependo de nada. Faria mais 10 vezes se fosse necessário”, disse.
A pequena Pietra nasceu em solo ucraniano — Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução
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Contato direto
O campo-grandense, Ross Kasakoff, mudou- se para a Ucrânia há pouco mais de dois anos para trabalhar diretamente como assessor em uma empresa de barrigas de aluguel para casais de todo o mundo. O jovem atua diretamente com o público brasileiro.
Ross detalhou que tem vivido momentos de tensão e incerteza, e com medo de que o confronto com a Rússia se agrave.
“Eu, como a maioria dos ucranianos, não acreditava numa invasão. Trabalho com barriga de aluguel, aqui na Ucrânia o serviço é legalizado e recebemos casais que não podem ter filhos do mundo todo. Nós oferecemos tratamento e muitos deles agora estão solicitando a minha ajuda. Eu não saio daqui sem eles”, disse.
Há pouco mais de dois anos Ross mora na Ucrânia — Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução
Como Ross, milhares de moradores de Kiev ainda tentam deixar a capital da Ucrânia, após a Rússia iniciar a invasão a várias partes do país. A cidade começa a viver um caos. Vídeo abaixo mostra fila de carros para sair da Ucrânia. Assista.
O sonho da maternidade e a tensão
Uma sala de 40 m², com cerca de 40 pessoas – entre adultos, crianças e bebês recém-nascidos – está servindo de abrigo para brasileiros que se protegem da invasão russa.
Kelly e outros brasileiros que estão no abrigo em Kiev. — Foto: Arquivo pessoal/Reprodução
A jornalista Kelly Lisiane Muller foi à Kiev, junto do marido, para buscar a filha que nasceu no dia 27 de janeiro deste ano, que foi gerada por reprodução assistida. Segundo ela, um grupo de brasileiros estão abrigados em um espaço que tem apenas um banheiro, nenhum fogão, uma cafeteira com pó de café que pode durar até um dia e algumas camas improvisadas.
Ainda em solo ucraniano, Mikaela é cuidada pelos pais — Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução
O clima de tensão é iminente e a mudança na rotina foi repentina, como a jornalista detalhou em entrevista. “A Rússia está invadindo o país, não tem como pegar um ônibus ir embora. Em horas, tudo mudou. Agora não é hora de se expor, sair na rua, ficar preso num carro ou correr o risco de ficar em um fogo cruzado. A gente tenta passar tranquilidade, mas é muito assustador”, destacou.
Guerra na Ucrânia
A Rússia, com autorização do presidente, Vladimir Putin, iniciou na madrugada desta quinta-feira (24) uma ampla operação militar para invadir a Ucrânia. Há imagens de explosões e movimentações de tanques em diferentes cidades ucranianas. Putin disse às forças ucranianas que deponham as armas e voltem para casa.
“Quem tentar interferir ou, ainda mais, criar ameaças para o nosso país e nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e levará a consequências como nunca antes experimentado na história”, ameaçou. Veja no mapa abaixo.
Mapa mostra locais da Ucrânia que foram bombardeados em ataques da Rússia — Foto: Arte g1
A operação iniciou no leste da Ucrânia mas foi além da região de Donbass e diversas cidades ao longo de toda a fronteira ucraniana foram bombardeadas.
Fonte G1.