Após três meses de conflito entre Rússia e Ucrânia, falas sobre uma possível Terceira Guerra Mundial começaram a ser mais presentes. Nesta semana, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, fez a seguinte declaração ao ser questionado por um jornalista da TV estatal russa sobre uma escalada do conflito:
“Os riscos [de uma Terceira Guerra] são muito significativos. Eu não quero inflar isso artificialmente. O perigo é sério, real”, disse. “Há chances reais de que a guerra se transforme em algo maior”, seguiu.
Após sua declaração, a tensão aumentou e o Ocidente se reuniu para discutir o envio de mais armas para a Ucrânia, enquanto Vladimir Putin aumentou suas ameaças e informou que
“se alguém tem a intenção de intervir do exterior nos atuais acontecimentos, criando inaceitáveis ameaças de caráter estratégico para nós, deve saber que nossa resposta será fulminante”.
Para Igor Macedo, doutor em Relações Internacionais, pensar em uma Terceira Guerra Mundial não é algo que tem uma resposta simples. Ele aponta, entretanto, dois pontos que precisam ser analisados. O primeiro deles é que um conflito como vimos na Segunda Guerra Mundial só vai acontecer se houver uma “intervenção direta” da Organização o Tratado do Atlântico Norte (Otan). Para o especialista, essa possibilidade é baixa, visto que os países da aliança são bem armados e a Rússia perderia um confronto direto com eles. Outro aspecto que deve ser considerado, é a invasão na Moldávia. Um general das forças do distrito militar do centro da Rússia, Rustam Minnekayev, informou que Putin tem interesse em controlar a Transnístria, região separatista do país. O Kremlin não confirmou a informação, que deixaria claro que o autocrata russo tem ambições muito maiores do que libertar a região do Donbass.
“A invasão da Moldávia indicaria que não é só um conflito na Ucrânia. Ele [Putin] iria para outros países. Quando olhamos por essa vertente, a possibilidade de uma guerra incluir outros países é real”, explica Macedo.
O professor associado do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Kai Enno, tem um pensamento igual. Ele diz não acreditar na deflagração da Terceira Guerra Mundial – pelo menos não no sentido tradicional.
“O risco de algo imprevisível acontecer é muito alto, simplesmente porque guerras, como o conflito na Ucrânia, são situações de altíssimo estresse e tensão”, diz.
“Não teremos uma Terceira Guerra Mundial. Mas corremos o risco de ter um conflito maior, embora ele não se torne algo mundial”, segue.
Macedo também explica que uma situação como o da Segunda Guerra Mundial é “muito difícil [de acontecer], porque a Rússia está isolada, mas ela pode trazer outras nações para o confronto”, desde que não sejam membros da Otan.
Apesar de, temporariamente, uma Terceira Guerra Mundial ser algo descartado na visão dos especialistas, que duvidam da capacidade de Putin de manter um conflito por longo prazo, já que suas reservas começarão acabar, eles dizem ter certeza de que armas nucleares seriam usadas.
“Elas seriam utilizadas, mas não seria a primeira opção”, diz Macedo, acrescentando que “envolveria todos os equipamentos e ameaças que os países têm ao seu dispor”.
Para Kai Enno, a guerra seria híbrida, ou seja, não “seriam utilizados apenas armas convencionais e nucleares. Ataques cibernéticos e digital também aconteceriam”. O doutor em Relações Internacionais finaliza afirmando que uma guerra atômica é complexa.
“Se você usa uma e não destrói completamente o inimigo, você será destruído”.
Fonte: Jovem Pan