No Brasil, um alarmante número de crianças enfrenta as duras realidades da pobreza. Segundo uma pesquisa recente da UNICEF, intitulada “As Múltiplas Dimensões da Pobreza na Infância e na Adolescência no Brasil”, cerca de 63% do total de meninas e meninos no país, o equivalente a aproximadamente 32 milhões de crianças, vivem em múltiplas dimensões de pobreza. Em um ambiente familiar onde a renda é incerta, itens básicos como alimentação, saúde e vestuário tornam-se verdadeiros desafios.
Enquanto a falta de recursos financeiros já é uma preocupação por si só, um aspecto frequentemente negligenciado desse cenário é o impacto que o tamanho inadequado dos sapatos pode ter no desenvolvimento físico e emocional dessas crianças. A falta de roupas e sapatos adequados para as crianças pode parecer um problema menor, mas seus efeitos podem ser profundos, tanto a curto quanto a longo prazo.
De acordo com a fisioterapeuta e osteopata Fabrizia Souza, o uso de calçados que não se ajustam corretamente aos pés das crianças pode ter sérias consequências. “Quando os dedos dos pés não ficam bem acomodados no calçado, isso resulta em uma restrição no contato do pé com o solo, levando a desconforto e, em muitos casos, dor. Isso, por sua vez, pode afetar a capacidade da criança de se concentrar em suas atividades diárias, como brincar e interagir com os outros, o que pode levar a um ciclo de isolamento social e desânimo”, avalia.
Mas não é apenas o tamanho pequeno dos sapatos que é problemático. Às vezes, os pais, na tentativa de economizar, compram sapatos maiores para que durem mais tempo ou passam calçados de irmãos ou primos mais velhos para os mais novos. O professor do curso de Fisioterapia da UCDB, Carlos Alberto Eloy Tavares, explica que isso também pode causar danos. “Para bebês que estão na fase de engatinhar, é crucial que eles usem calçados flexíveis que permitam que seus pés respirem livremente. No entanto, à medida que começam a andar, os sapatos devem ter solados lisos para evitar quedas. Calçados que se prendem ao solo podem aumentar o risco de acidentes”, ele ressalta.
Para crianças mais velhas, a qualidade e o conforto dos calçados também são essenciais. Tavares alerta que é fundamental prestar atenção ao espaço entre o dedão do pé e a ponta do sapato. “Ele deve ser de aproximadamente a largura de um polegar da criança, não mais do que isso. Espaços menores podem causar deformidades e lesões que afetarão a postura e a saúde a longo prazo”, alerta.
A pesquisa da UNICEF lança luz sobre a interseção entre pobreza, acesso a itens básicos e bem-estar infantil. Para muitas crianças brasileiras, a falta de sapatos adequados é apenas um dos muitos desafios que enfrentam diariamente. Essas descobertas destacam a importância de abordar a pobreza infantil em todas as suas dimensões e garantir que as crianças tenham acesso não apenas a alimentos e cuidados médicos, mas também a roupas e calçados que lhes permitam crescer saudáveis e felizes.
Por esse motivo, uma iniciativa inovadora no Brasil está buscando coletar pares de sapatos para crianças, adolescentes, jovens e adultos que enfrentam situações de vulnerabilidade social, residentes em comunidades carentes, favelas, periferias e áreas de ocupação. A campanha nacional de Solidariedade “O Seu Pezinho Virou Pezão” é uma colaboração entre a empresa Pezinho & Cia e a CUFA (Central Única das Favelas).
Em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, a campanha já está em andamento na loja, localizada no Shopping Campo Grande, e se encerra dia 15 de setembro. Para participar, basta doar sapatos em bom estado diretamente na loja, ou no SAC do Shopping, que fica embaixo das escadas rolantes, próximo ao Banco do Brasil.
Sato