Home office chega ao fim, mas não para todo mundo. E o novo mantra tem nome: trabalho assíncrono

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Numa manhã de segunda-feira ninguém que tenha batente numa firma privada – o que no Brasil dá 1/3 da população ativa, já que mais 1/3 da força é informal e outro 1/3 é de funcionário público – quer discutir a verdadeira questão: voltaremos ou não ao presencial? A resposta é sim. Mas a resposta é igualmente não. Vai depender de sua área de atuação e, especialmente, da grandeza e responsabilidade da empresa em que você atua. Não há uma resposta padrão, essa é a única resposta verdadeira. Tem companhia que fechou convênio com laboratório para que qualquer funcionário, levando o crachá, realize um teste de Covid sem necessidade de agendamento ou pagamento. Há outras em que se o colega pegou a doença, dane-se. Cada um que se vire para fazer (e bancar) seus testes. Até aqui nada de novo no front. Simplesmente o mundo sendo o mundo, em especial nos trópicos.

Mas quem lida mais a sério com o tema futuro do trabalho pensa num pós-pandemia sim. E nesse campo há muita especulação, alguns dados e pouca certeza. Uma delas é que a maioria dos empregadores quer seus times de volta ao batente físico e presencial, apesar de em público ninguém ter coragem de explicitar isso. Um pouco como na época em que shoppings não cobravam pelo estacionamento e um esperava o outro ser o primeiro. Aí todos passaram a cobrar. De toda forma, há áreas em que o mundo a distância virou regra: a tecnologia. Nesse campo, a escassez (global) de vagas deu a seus profissionais um poder de barganha superior a outras categorias. “Tenho um funcionário que decidiu pegar a mulher e o filho e fazer uma viagem pelo litoral brasileiro, morando algumas semanas em cada lugar, e só voltar quando o filho, que tem 4 anos, tiver idade de entrar no ensino fundamental”, me disse o executivo que comanda uma área com 50 profissionais numa das gigantes do setor, fornecedora de soluções para todos os grandes players de nuvem.

O que nós, trabalhadores, queremos? Bem, antes é preciso dividir quem pode o quê. Se você é informal, trabalha para a Uber, tem a mochila do iFood, atua na saúde, é garçom ou dirige um ônibus, não há muita escolha. Home office está tão perto de você quanto a paz mundial. Já em profissões chamadas liberais o campo é híbrido. Reuniões a distância viraram regra, e não vão morrer. Mas nem sempre você conseguirá ficar de longe. Tratar uma cárie, por exemplo, ainda não tem eficácia de forma remota. Por outro lado, dar aula é um campo minado. Professores da rede pública pensam A, os da rede privada pensam Z. Professores do ensino fundamental pensam A, os do ensino superior pensam Z. Cada um defende sua conveniência antes do que é melhor para o aluno (faz 25 anos que atuo também como professor, conheço o bicho).

Isso tudo dito fica uma primeira dica, o que chamo de tendência sem volta para quem poderá trabalhar presencialmente e remotamente, o tal hibridismo – mesmo que ele, em alguns meses, seja 90% na firma e no outro mês seja 65% em casa. A palavra-mantra será assíncrono. Em cada vez mais carreiras e áreas de atuação conviveremos com colegas de nacionalidades, línguas e fusos horários distintos. Equipes globais são assíncronas por natureza. Que profissional de hoje e treinado para esse cenário? Respondo: poucos. E aí os RHs costumam errar, porque planilham suas contratações em vez de perfilar seus contratados. Os tais soft skills vão valer cada vez mais. Muito mais.

Companhias Século 21 serão empresas de cultura global e posicionamento político (mas deste tema tratarei em outro momento). Isso implicará na atuação assíncrona. Em resumo, significa um time preparado para o trabalho que acontecerá para pessoas diferentes em seu próprio tempo. Lado ruim: gente de perfil rígido sofrerá mais. A nova certeza é a rotina de trabalho na incerteza. O que não significará balbúrdia ou ausência de metas e métricas. O oposto. Elas serão cada vez mais contundentes. Mas o perfil do tal colaborador será cada vez mais maleável e adaptável. O novo mundo do trabalho vai mudar a cultura de todas as empresas. Ou de todas as que queiram chegar ao Século 21.

Fonte: Istoé Dinheiro