Vai viajar sozinha? Mulheres dão dicas de segurança

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Mulher viajando sozinha é perigoso? Mesmo ao andar em sua cidade natal, alguns medos podem passar na cabeça, como de um assalto ou de assédio.

Cerca 17% das mulheres latino-americanas temem viajar sozinhas, apontou pesquisa do site de reservas Booking.com, de 2019. De acordo com o estudo, 38% das entrevistadas nunca fizeram esse tipo de roteiro e 16% nem pensam na possibilidade.

g1 falou com algumas mulheres que já viajaram pelo Brasil e pelo exterior para trabalhar, estudar e para aproveitar as merecidas férias. Veja a seguir o que elas recomendam:

Escolha a hospedagem certa

A hospedagem ideal pode ser um coringa para a sua viagem. Isso porque, se ela for em um lugar central da cidade, você irá passar menos tempo em transporte e, portanto, menos tempo transitando por um lugar desconhecido e arriscando se perder.

Além disso, é fundamental escolher um local bem avaliado para não cair em furada, recomenda Mariana Bueno, que tem um blog sobre o tema e realiza viagens sozinha há quase 10 anos.

Seu primeiro roteiro sem companhia, em 2012, aconteceu porque ela recebeu férias não planejadas e não tinha com quem viajar. O destino escolhido foi Cuba, lugar para onde sempre que chamava alguém para ir junto recebia um “não”.

“Foi meio radical porque não tinha internet. Era uma época que a gente já tinha smartphone, a gente já usava WhatsApp e outros aplicativos que são facilitadores em todos os aspectos de segurança e eu fui em um lugar que eu tinha que levar tudo impresso no papel”, relata.

“Quando voltei, pensei “poxa, sobrevivi a isso”. Achei interessante, então pensei “agora eu posso ir para qualquer lugar”, completa.

Mariana Bueno em Canoa Quebrada em 2019. — Foto: Arquivo pessoal

Quartos compartilhados ou individuais?

Você não, necessariamente, estará em perigo iminente caso opte por quartos compartilhados.

Mariana até prefere ficar sozinha, pois se sente mais segura assim. Já Larissa Gautto, comissária da Força Aérea Brasileira (FAB), diz que, sempre que vai viajar de férias, opta por quartos compartilhados em hostels.

“Eu acho hostel muito seguro. Nunca tive problema e às vezes eu nem me atento a trancar mala, colocar mala em armário. Em locais assim, as pessoas geralmente não mexem”, diz.

A comissária conta que se hospeda em quartos apenas com mulheres, não somente por conta da segurança, mas também por considerar mais higiênico.

A primeira vez que Larissa viajou sozinha foi sem muito planejamento. Ela havia comprado uma passagem para conhecer Salvador com um amigo, mas acabou tendo que passear na cidade sem companhia.

“Eu comecei a pesquisar no Google: ‘mulheres que viajam sozinhas, o que fazer’, o que eu faria de visitas lá perto”, lembra.

No fim, as férias foram ótimas e a comissária, atualmente, opta por viajar sem companhia. Larissa diz que um dos motivos disso é que ela tem um “ritmo de viagem muito acelerado” e nem todo mundo consegue aguentar.

Larissa Gautto em Santiago Chile, em 2020, sua última viagem antes da pandemia. — Foto: Arquivo Pessoal

Larissa Gautto em Santiago Chile, em 2020, sua última viagem antes da pandemia. — Foto: Arquivo Pessoal

Pesquise sobre o seu destino

“Eu sou a pessoa que lê tudo a respeito do local: indicação, o que as pessoas acharam, entro nas redes sociais, faço perguntas antes”, descreve a dentista Bruna Conde.

Ela faz bastantes viagens sozinha pelo Brasil para realizar cursos e aproveita para conhecer os pontos turísticos.

“A primeira vez que eu viajei sozinha, eu achei que foi libertador, acho que todo mundo precisaria fazer isso um dia, porque é algo que você se conhece, faz as coisas no seu tempo”, diz.

Além de informar quais os pontos turísticos, a pesquisa serve para identificar quais os órgãos do governo aos quais você pode pedir ajuda em alguma emergência, qual a melhor forma de transporte para andar em determinada região (se é ônibus, metrô, táxi, etc.) e aprender a cultura do lugar, aconselham as entrevistadas.

A pesquisa vai ajudar em mais uma coisa: decidir se em determinado destino é melhor optar por guias turísticos ou não. Isso porque pode ter algum lugar que é mais perigoso e, por isso, um grupo pode ser uma defesa.

“Por exemplo, para o Egito, já me falaram que lá é um lugar que não é bom para ir desacompanhada. Uma mulher sozinha e também para conhecer o local da história, nesses casos, você precisa de um guia para te indicar”, diz Bruna.

Bruna Conde em viagem a Minas Gerais em 2018. — Foto: Arquivo Pessoal

Tire dúvidas apenas com fontes confiáveis

A psicóloga Shana Eleves fez um mochilão sozinha pela Europa e morou por 7 meses no exterior aos 23 anos – hoje ela tem 36.

Para ela, um fator fundamental para a “sobrevivência” foi sempre recorrer à polícia local e às fontes oficiais para informação.

“Uma vez, eu fui em Madri e fui conversando com duas ou três mulheres, uma delas me deu uma informação sobre onde ir no metrô e ela me deu uma informação errada. Não sei o que ela queria fazer comigo, mas eu percebi uma coisa estranha no comportamento dela”, relata.

“Eu estava dentro do metrô, passaram dois, três funcionários. Aí, os funcionários passaram e eu perguntei: ‘Vem cá, para onde fica o local tal’, eles falaram ‘Para lá, para o outro lado’. Quando eles falaram isso, ela saiu correndo. Alguma coisa ela tinha de intenção”, completa a psicóloga.

Mariana Bueno também recorre aos funcionários do hotel para saber se determinado local é tranquilo para passear sozinha, quais as melhores ruas para transitar e os transportes mais adequados.

Esteja preparada

É importante estar equipada na hora de turistar.

Vai para o exterior? Compre um chip local para o seu celular, para garantir que não vai ficar na mão, recomenda Larissa Gautto.

Ande também com carregadores portáteis para não ficar sem bateria, o celular, afinal, será o seu mapa, pode funcionar para pedir o transporte e pode ser até sua voz, caso precise do tradutor para se comunicar. Ainda assim, ande com o mapa em papel também, vai que o celular para de funcionar.

Não dê bobeira com o celular. Mariana recomenda sempre entrar em um estabelecimento na hora de dar aquela consultada no mapa, por exemplo.

Shana aconselha ter uma rede de contatos nos locais de destino para ter indicações e rostos familiares. Sabe aquele amigo de um amigo ou aquele primo distante? Isso pode ajudar a ter uma sensação de segurança maior.

Shana Eleve em viagem ao Amsterdã, em 2018. — Foto: Arquivo Pessoal

Shana Eleve em viagem ao Amsterdã, em 2018. — Foto: Arquivo Pessoal

Compartilhe seu trajeto

Envie o seu roteiro de passeios e o GPS do celular para amigos próximos e familiares. É o que faz a Quézia Paiva, de 23 anos. Ela é influenciadora digital e viaja bastante sozinha.

“Faço lista de transmissão com a minha família e os meus amigos para sempre estar informando onde que eu estou, o local, as paradas”, diz.

Pode contar que está sozinha?

“Nem sempre fale que está sozinha. Tem gente que pergunta: ‘ah, mas você está sozinha?’. Intuição é uma dica péssima, porque é tão subjetiva, mas eu acho que tem um pouco disso, de você sentir”, relata Mariana Bueno.

Ela diz que, quando se sente confortável com a pessoa que pergunta, já embala a história da sua vida na resposta, caso contrário, avisa que tem um grupo de amigos a esperando ou inventa um marido.

“As pessoas falam muito da questão do marido inexistente. É engraçado, porque quando perguntam: ‘Seu marido deixou (viajar sozinha)?’. Eu nem tenho marido, mas já teve vezes de eu falar, porque as pessoas respeitam mais o seu marido – que no caso nem existe e, mesmo que existisse, nem está ali – do que respeitar a sua própria existência de estar ali no lugar”, afirma.

Esconda a ‘cara de turista’

Outra forma de aumentar a sua sensação de segurança é perdendo um pouco a “cara de turista”. Isso vai de usar roupas que sejam parecidas com as da população local até optar sempre por ter uma mochila – assim você pode carregar mais discretamente equipamentos fotográficos e as lembrancinhas, pontua Larissa.

Quézia diz que aprendeu com defesa pessoal a importância de andar com a coluna ereta, sem andar de cabeça baixa:

“De cabeça erguida você acaba intimidando a pessoa. [Com] a cabeça baixa, as pessoas ao redor associam você a uma vítima e, quando você está com a cabeça erguida, significa que você é uma possível pessoa que pode gritar, pedir socorro”, diz.

Quézia Paiva em Goiânia, em setembro de 2021. — Foto: Arquivo pessoal

Quézia Paiva em Goiânia, em setembro de 2021. — Foto: Arquivo pessoal

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