Quando Kurt Cobain se matou e a banda mais importante do rock nas últimas três décadas acabou, ficaram traumas e vácuos. O baterista do Nirvana, Dave Grohl apostou, ainda em 1994, em um projeto todo tocado por ele: o Foo Fighters.
Dave virou homem de frente, no vocal e na guitarra, e o vazio foi terceirizado para o banco da bateria. Quem ficaria na sombra dele, que tentava sair da sombra de Kurt? Quem seria o baterista do baterista do Nirvana?
O primeiro candidato, William Goldsmith, não aguentou a pressão. Olha que ele tinha chegado aos Foo Fighters com um amigo, o baixista Nate Mendel – os dois tocavam na banda emo Sunny Day Real Estate.
William fez parte da banda até sair o 2º álbum, “The colour and the shape”, em 1997. “Fez parte” é um termo forte. “Eu descobri que ele (Grohl) havia regravado todas as faixas e se livrado de todo o meu trabalho”, ele contou em 2017 ao jornal “The Daily Mail”.
Dave era perfeccionista, estava sob pressão e sabia tudo que queria na bateria. William pediu as contas. Dave foi pedir indicação a um baterista conhecido. Taylor Hawkins tocava com Alanis Morrissete. Nem Dave esperava que ele mesmo se oferecesse para o trabalho.
Taylor era um texano criado na Califórnia que tinha estudado em conservatório e, além de bateria, tocava piano e violão. Nem assim ele teve vida fácil nos Foo Fighters.
“Eu não estava nada confortável em tocar bateria no Foo Fighters até chegarmos ao ‘One by One’ (2002). Dave tocou na metade das faixas de ‘There Is Nothing Left to Lose’ (1999). Eu estava sofrendo porque nunca estive em um estúdio antes. É uma coisa completamente diferente de tocar ao vivo. O microscópio está ligado em você. O primeiro baterista não aguentou a pressão e até hoje culpa o Dave por isso”, ele disse ao programa “Beats 1”, de Matt Wilkinson, em 2018.
De longe não dava para perceber o sofrimento. Taylor era o cara dos melhores clipes de zoeira, vestido de mulher nos clássicos “Everlong” e “Learn to fly”. Nos shows, ficava claro que Dave e Taylor eram os dois caras hiperativos da banda.
Ele ficou confortável no grupo e os fãs se acostumaram com ele. Mais solto no palco, Taylor ajudou a transformar o Foo Fighters, definitivamente, em uma banda de rock de arena. O gosto por Queen, que ele tinha desde a época dos shows com Alanis, se refletia nos Foo Fighters.
O jeito despojado californiano ajudou Taylor a ganhar o respeito dos músicos dentro e fora da banda, e a simpatia dos fãs. A química com Dave Grohl foi crescendo e teve seu grande símbolo na troca de posições até o último show – Dave na bateria, Taylor no vocal, cantando “Somebody to love”, do Queen.
A história dos Foo Fighters foi de cura e reconstrução. Há muitos anos já não havia dúvida de que aquele banco de bateria era de Taylor – após 25 anos, metade da vida dele. O cara que, pacientemente, ajudou a preencher um vácuo na história do rock, morreu aos 50 anos. Agora ele deixa seu vazio.
Fonte: G1