Quem anda de bicicleta por Campo Grande, seja como esporte, lazer de fim de semana ou como o meio de transporte oficial para se deslocar ao trabalho tem várias queixas: a falta de ciclovias em algumas regiões, ciclovias não adequadas em outras e a falta de respeito por parte dos condutores de veículos são algumas das principais dificuldades relatadas pelos ciclistas.
Porém, isso não impede que muitos campo-grandenses a utilizem como transporte para ir aos locais de estudo e trabalho, aproveitando as vantagens que a bicicleta tem a oferecer: ajuda a melhorar a saúde, a diminuir o tempo de deslocamento no trânsito, não gastar combustível, tem baixo custo de manutenção e não emite gases poluentes, como os veículos automotores.
Nesta sexta-feira (3), é comemorado o Dia Mundial da Bicicleta – instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas), desde 2018 – e o Jornal Midiamax conversou com Cintia Possas, conselheira pelo centro-oeste da União dos Ciclistas do Brasil e Luza Basso Driessen, arquiteta e urbanista. As duas são representantes do Coletivo Bici nos Planos, organização da sociedade civil composta por ciclistas que atuam pela promoção e inclusão da bicicleta nas políticas públicas de Campo Grande.
O coletivo iniciou as atividades em 2016 articulando a campanha nacional ‘Bicicleta nos Planos’. Desde agosto de 2018 foi oficializado como primeiro coletivo cidadão em Mato Grosso do Sul que atua pela mobilidade urbana em bicicleta. Hoje é composto por 12 pessoas em Campo Grande e recentemente foi criada uma articulação em Dourados.
“Campo Grande, como a grande maioria das cidades brasileiras, é planejada e construída para quem anda de automóvel. No entanto, conforme a PNMU (Política Nacional de Mobilidade Urbana), os veículos individuais motorizados (carros e motos) são os últimos da hierarquia viária. Antes deles, devem ser priorizados pedestres, ciclistas, modais não motorizados, transporte coletivo e de serviço. O movimento organizado é extremamente necessário para reivindicar esse direito na cidade. Nos revezamos para estar nesses espaços já que todos nós trabalhamos em seus respectivos empregos e o trabalho com o coletivo é paralelo às nossas rotinas e voluntário”, explica as representantes.
Cintia e Luza destacam a “Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro”, que foi coordenada localmente pelo coletivo. A pesquisa mostrou que aproximadamente 80% dos entrevistados se sentiriam estimulados a pedalar mais se houvesse mais infraestrutura e maior segurança no trânsito.
Campo Grande possui 91 quilômetros de malha cicloviária e a perspectiva da Prefeitura da Capital é de que passe dos 100 quilômetros em breve, com a construção de mais 10 quilômetros. “Vale ressaltar que infraestrutura vai muito além de construir muitos quilômetros de ciclovia ou ciclofaixa, é preciso por exemplo bicicletários com zeladoria em pontos estratégicos para deixar a bicicleta estacionada e ter certeza que ao voltar ela estará ali; pontos de apoio com água, duchas e ferramentas por exemplo; sombreamento urbano melhor planejado e distribuído; um comércio e órgãos públicos preparado para receber clientes e trabalhadores ciclistas, etc”.
As representantes do coletivo mencionam que ciclista urbano, possui na maioria das vezes, local e hora para chegar, de maneira que uma ciclovia feita em ziguezague não foi planejada com esse cuidado. Além disso, os PARE’s nos cruzamentos devem ser ao motorista e não ao ciclista, uma vez que quem tem a prioridade é quem está pedalando (da mesma maneira, ciclistas devem parar para pedestres).
“Por vezes é mais eficaz ir pela via compartilhando com os carros que usando a ciclovia (aí o motorista não entende porque numa via com ciclovia o ciclista está pedalando na via). Campo Grande está no caminho, tem investido no estabelecimento da infraestrutura, tem mantido o diálogo aberto para sugestões, está realizando neste momento oficinas participativas para ouvir a população e seus anseios para a revisão do plano de mobilidade urbana. Porém, perdeu a oportunidade com a pandemia e estabelecer as ciclovias temporárias que seriam muito convidativas para a população trocar o transporte público pela bicicleta. Mesmo assim, penso que temos outra oportunidade que é saber aproveitar a alta nos preços do combustível para estimular o uso da bicicleta. Uma vez que a pessoa experimenta e começa a se sentir segura para usar a bicicleta, a chance dela voltar ao carro é muito pequena”. https://www.google.com/maps/d/embed?mid=1pRsiqGcUf1nWb_7wjbYCR0bCCj4&ehbc=2E312F
Segurança no trânsito
A Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) informou que, neste ano, até o momento, foram registradas duas mortes envolvendo ciclistas no trânsito de Campo Grande e que notou o aumento no número de ciclistas, mas que não há o quantitativo oficial desse aumento. Sobre a atuação da Agetran na conscientização dos motoristas, a pasta informou:
“A Agetran por meio da Educação para o Trânsito realiza diversas ações nas escolas, empresas, por meio de palestras de conscientização. Ou como diz o tema do Maio Amarelo deste ano, Juntos Salvamos Vidas, a Engenharia, fiscalização, educação, Judiciário e primeiros socorros, todos juntos para a segurança e fluidez no trânsito”.
Sobre a conscientização dos condutores, Cintia e Luza pontuam que o tema passa pela educação do motorista/motociclista, acalmamento das vias com redução da largura das faixas e fiscalização com olhar voltado às infrações realizadas ao ciclista (como não dar devida distância ao passar o ciclista, mandar pedalar na calçada, ficar pressionando atrás do ciclista para ele sair da frente). “Ciclistas têm o direito de circular pelas ruas, é necessário que motoristas respeitem e tenham um olhar atento à presença da bicicleta na cidade”.
Como pedalar com segurança
O coletivo destaca que as necessidades e comportamentos de ciclistas de esporte, lazer e deslocamentos são bem diferentes. Confira algumas dicas de segurança:
Para esporte o ciclista pedala em velocidade: nesse caso capacete e luvas são itens de extrema necessidade.
Lazer: normalmente a pessoa vai pedalar num parque ou numa ciclovia ou com amigos pra curtir a cidade, sem ter hora pra chegar no destino, nem sempre sai de casa de bicicleta, pode se deslocar de carro com transbike até o ponto de encontro, por exemplo. Nem sempre a pessoa se sente segura em pedalar, pedala com crianças pequenas, etc. Os mais experientes podem escolher fazer uma trilha rural nas proximidades da cidade. Nestes casos, também há necessidade de luvas, capacete, além dos itens obrigatórios por lei.
Deslocamentos urbanos: os itens de segurança obrigatórios segundo o CTB são: campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais, e espelho retrovisor do lado esquerdo.
“É importante dizer que a segurança do ciclista urbano não depende só do uso do equipamento de segurança, ela passa também pela atitude dos motoristas e pelo planejamento das cidades: iluminação pública adequada, vias com piso de qualidade, redução da velocidade dos carros e educação no trânsito”, finaliza as representantes do coletivo.
Fonte: midiamax