O GLOBO – Após desistir de concorrer à Presidência da República, o ex-governador João Doria vai anunciar o seu futuro político num pronunciamento marcado para o próximo dia 13. Doria voltou de uma viagem de descanso de uma semana aos Estados Unidos na quinta-feira, mas seu rumo nas eleições de 2022 segue incerto.
Logo após renunciar à sua pré-candidatura no último dia 23, Doria se despediu nas redes sociais com um “até breve” e disse que estará “sempre à disposição de lutar a guerra” quando for chamado. A frase abriu margem no PSDB para a leitura de que o ex-governador de São Paulo podia ter feito um recuo estratégico para tentar voltar ao páreo mais à frente.
Esse cenário foi cogitado por alguns aliados, caso a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) pela terceira via não se viabilize em seu partido e ela não decole nas pesquisas. Ou na hipótese de o PSDB desistir do apoio a Tebet e decidir por uma candidatura própria. Hoje, há uma ala na sigla que tenta ressuscitar a candidatura do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite. Para interlocutores, nesse caso Doria seria o nome mais indicado, já que venceu as prévias da sigla no ano passado.
Um retorno de Doria, no entanto, é visto como difícil internamente em razão das desavenças com a cúpula tucana e pela falta de apoio político na sigla, especialmente de correligionários de São Paulo.
Todavia, não está descartada uma candidatura do tucano ao Senado ou à Câmara. Na segunda hipótese, seu nome poderia ser lançado na tentativa de fortalecer a bancada como puxador de votos. Pessoas próximas, porém, afirmam considerar um desprestígio Doria ser cotado para disputar a eleição proporcional. Eles citam atributos como a experiência à frente da prefeitura e do Palácio dos Bandeirantes. Insistem ainda que o ex-governador é o único candidato da terceira via que tem um diferencial como o ativo político da vacina CoronaVac contra a Covid-19.
Doria desistiu de disputar o Palácio do Planalto após ser pressionado pela cúpula do PSDB. Ele chegou a ameaçar entrar na Justiça para manter sua candidatura, alegando ter vencido as prévias internas.
A estratégia dos dirigentes partidários era evitar que o embate se estendesse até a convenção partidária, entre julho e agosto. Em seu discurso de despedida, Doria deixou claro que acabou enquadrado e disse que entendia “não ser a escolha da cúpula tucana”.
Para aliados, a tendência é que Doria volte a se dedicar à iniciativa privada e ao grupo Lide, de líderes empresariais, que tem o ex-governador como fundador. Mas seu entorno acredita que o paulista continuará atuando nos bastidores para ajudar na reeleição do governador Rodrigo Garcia (PSDB).
Embora Garcia tenha evitado fazer agendas públicas com Doria desde que assumiu o cargo, devido à sua alta rejeição nas pesquisas, interlocutores afirmam que o ex-governador pode ter um papel importante na articulação de apoio do setor empresarial a Garcia.
Pouco conhecido da população, Garcia tem sugerido que não tem padrinho político e, em entrevista ao GLOBO na semana passada, afirmou que “não é candidato de ninguém”. Mesmo que a relação entre ambos tenha passado por desgastes, Garcia sempre deixa claro que tem sentimento de gratidão em relação ao ex-governador.
Doria elogiou o sucessor político em evento ocorrido um dia após deixar a corrida presidencial, no mês passado. Na ocasião, Garcia desconversou sobre o papel do ex-governador em sua campanha política, mas fez um aceno a Doria.
— Esse gesto seu de ontem (da desistência) foi um gesto de buscar no senso coletivo uma alternativa para o nosso tão amado Brasil — disse Garcia, ao discursar ao lado de Doria, acrescentando. — Eu sou sucessor do governador João Doria, trabalhei no governo, vou defender o nosso legado, defender as nossas ações e ele continua dando sugestões a mim e outros membros do PSDB sobre como gerir o estado de São Paulo.
Doria retribuiu:
— Rodrigo Garcia merece apoio, é o candidato mais preparado, é o candidato com melhores condições para dar continuidade ao trabalho que ele já vem realizando brilhantemente. Terá o meu apoio —afirmou.
A relação entre os dois ficou estremecida depois que Doria, já pressionado pela cúpula partidária, ameaçou no final de março permanecer à frente do governo de São Paulo, o que minaria a estratégia eleitoral de Garcia.