Bem desenvolvido e com quase três milhões de habitantes, Mato Grosso do Sul já foi cenário de assassinatos horripilantes que entraram para a história. Crimes de guerra, do tempo da escravidão, sequestros, chacinas e outras barbaridades aqui cometidas, entre os anos de 1730 e 2020, serão relembradas partir desta segunda-feira (27) em uma série de reportagens do MidiaMAIS – baseadas no livro “Sangue no Oeste”, do jornalista Sérgio Cruz.
A começar pela Capital, Campo Grande. De vilarejo fora da lei à principal cidade de Mato Grosso do Sul, a história de Campo Grande vai além dos 123 anos oficiais que o município está prestes a completar. Muito antes disso, o sangue dos habitantes foi espalhado por este chão de terra vermelha, quando tudo ainda era “só mato”.
Assassinatos, raptos, estupros e violação da propriedade alheia. Em 27 de março de 1885, o vilarejo de nome Campo Grande foi notícia em Corumbá – um dos principais municípios da região sul do então Estado de Mato Grosso. A vila sem lei parecia um velho-oeste.
Naquela data, o jornal O Iniciador noticiou: “De Campo Grande, também recebemos notícias desanimadoras. Outro italiano foi barbaramente assassinado a CACETADAS. Dizem-nos que a questão deu-se com o sócio da vítima por ter ela subscrito com três mil telhas para a construção de uma capela, contra vontade do sócio. Não é de hoje que o importante núcleo que se está formando em Campo Grande reclama a atenção do governo provincial”, resgata a obra “Sangue no Oeste”.
Àquela época, a notícia foi o estopim. Mais de 300 famílias estavam estabelecidas no vilarejo desde 1879 e, até então, o lugar não contava com nenhuma autoridade policial. Com isso, Campo Grande vivia à sombra de crimes, algo que foi pontuado pela mesma notícia em 27 de março de 1885.
“Medidas urgentes reclamadas pelos habitantes daquela povoação são frequentes aos assassinatos, raptos, violação de propriedade e estupros, segundo somos informados. Do atual administrador da província, zeloso e solícito pelo bem público, esperamos remédio a tantos males, como o esperam os habitantes daquela nascente povoação”, finaliza O Iniciador.
Conforme o jornalista Sérgio Cruz, que resgatou o arquivo histórico, a primeira subdelegacia de polícia do vilarejo foi criada somente em 6 de maio de 1889, quatro anos depois dos fatos destacados na reportagem. Joaquim Vieira de Almeida foi nomeado para ser o titular do primeiro posto policial.
“As notícias que chegavam de Campo Grande nos mais diferentes lugares não eram nada alentadoras, com relação à segurança dos moradores da localidade. Ao mesmo tempo em que passavam um cenário de enorme potencial econômico, geravam enorme desconforto quando tornavam evidente a violência que avassalava o vilarejo”, destaca Sérgio Cruz.
Sangue no Oeste
Idealizador do livro “Sangue no Oeste”, Sérgio documenta em sua obra “mortes e crimes violentos na História de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul” entre os anos de 1730 e 2020. Ao Jornal Midiamax, o autor que se dedica à pesquisa histórica desde 1974 detalha e explica porque decidiu reunir esses dados.
“São 450 páginas, eu reuni os fatos históricos. São mais dados mesmo, crimes rumorosos, e alguns eu deixei de fazer por falta de dados. Só editei e levantei fatos já publicados em jornais e livros. Não tem nada de novo, mas a intenção é reunir esse material, documentar tudo, para facilitar a quem um dia venha a pesquisar sobre o assunto”, disse ele ao MidiaMAIS.
“Antes de ser Capital, Campo Grande foi um vilarejo sangrento e fora da lei” é a primeira de uma série de reportagens do MidiaMAIS que resgata as mortes e crimes documentados na obra “Sangue no Oeste”,
Fonte: midiamax