BRASÍLIA – Aliados de Jair Bolsonaro (PL) afirmam que a participação do presidente na sabatina do Jornal Nacional, na TV Globo, na noite desta segunda-feira (22), teve um saldo positivo para o mandatário, principalmente por ele não ter perdido o equilíbrio nos 40 minutos em que respondeu a perguntas dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos.
A entrevista foi marcada por altas expectativas por parte da campanha do presidente.
Como a coluna Painel da Folha mostrou, ela era vista como um dos momentos cruciais daqui até o dia da eleição —principalmente pela alta audiência do telejornal.
A maior preocupação do entorno de Bolsonaro era que ele pudesse perder o equilíbrio e cometer grosserias, especialmente com a apresentadora Renata Vasconcellos. Na avaliação deles, o presidente manteve o controle e evitou atritos excessivamente com a apresentadora.
A rejeição entre as mulheres é um dos principais empecilhos de Bolsonaro. Um comentário machista ou agressivo poderia ser danoso para a imagem do presidente junto a esse eleitorado, segundo seus aliados.
O mandatário começou a entrevista mais calmo, dando respostas em um tom sereno. No decorrer do programa, porém, ficou mais irritado, principalmente após ser questionado se tinha algum arrependimento por ter imitado pessoas sem ar ao comentar os problemas da Covid-19.
A análise feita sob reserva por correligionários de Bolsonaro foi exposta pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que coordena a campanha do pai à reeleição.
Em rede social, ele comemorou o fato de os entrevistadores não terem conseguido “desestabilizar” Bolsonaro. O presidente, por sua vez, ironizou e chamou a sabatina de “pronunciamento de Bonner”.
No geral, quando o presidente tem postura mais incisiva e até grosseira, aliados avaliam que ele afasta eleitores mais moderados e de centro.
Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro busca atrair o voto do grupo conhecido como “arrependidos”: os que votaram nele em 2018 e que agora criticam sua gestão.
O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que estava na TV Globo, defendeu o desempenho de Bolsonaro na sabatina.
“Hoje o Brasil pode ver o Bolsonaro de verdade que as narrativas esconderam e escondem há 4 anos: uma pessoa espontânea, sincera, de posições firmes e com profundo amor pelo Brasil e pelos brasileiros.”
Os ministros Paulo Guedes (Economia) e Fábio Faria (Comunicações), além do ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten, integraram a equipe que acompanhou Bolsonaro aos estúdios para a transmissão do telejornal.
Apesar da avaliação positiva, alguns integrantes da campanha opinam que Bolsonaro poderia ter se saído melhor se tivesse explorado mais as comparações com governos anteriores.
Eles também esperavam que ele pudesse falar mais sobre o Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família e uma das principais apostas para a reeleição.
Aliados comemoraram o fato de os entrevistadores não terem citado o caso da “rachadinha” protagonizado pelo senador Flávio Bolsonaro. O assunto costuma tirar o presidente do sério.
No final da entrevista, o presidente interagiu com apoiadores no Rio de Janeiro e Flávio Bolsonaro transmitiu o passeio nas redes sociais. Fábio Faria aproveitou o episódio para ironizar Bonner. “Depois de jantar o Bonner veio comer um hot-dog aqui”, disse, em referência ao apresentador do programa.
Nas redes sociais, bolsonaristas compartilharam trechos da entrevista. Foi bastante explorado o momento em que Bolsonaro respondeu a um questionamento de Bonner sobre sua aliança com o centrão dizendo que o jornalista o estimulava a se converter num ditador.
“Por que o centrão são mais ou menos 300 parlamentares. Se eu os deixar de lado, eu vou governar com quem? Não vou governar com Parlamento”, disse.
Bolsonaro foi eleito criticando o grupo de partidos que hoje dá base de sustentação ao seu governo no Congresso. Ele se filiou ao PL de Valdemar Costa Neto.
De acordo com levantamento da Quaest, durante a exibição da entrevista 9 milhões de pessoas foram impactadas, em média, com publicações nas redes sociais sobre a sabatina. O chefe do Executivo teve 35% de menções positivas, contra 65% negativas, também na média, ainda de acordo com o mapeamento.
Os momentos em que ele se saiu melhor, de acordo com a Quaest, foram quando ele discutiu com Bonner sobre ter chamado o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de canalha; quando condicionou aceitar o resultado da eleição, e ao falar do centrão.
Por outro lado, ele recebeu mais críticas quando tratou de urnas e golpe, pandemia e corrupção.