Enquanto Mato Grosso do Sul ardeu com uma onda de calor por quase 20 dias e ainda perece na seca, o Rio Grande de Sul enfrenta uma tragédia sem precedentes por conta das chuvas, que causaram inundações em diversas cidades.
Por trás de todas essas catástrofes apenas uma vilã: a tão discutida mudança climática. Quem explica isso é o professor do Instituto de Física da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Thiago Rangel.
“Esses fenômenos extremos já ocorreram anteriormente, mas com a intensificação do desmatamento e o aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa, temos observado uma intensificação das mudanças nos padrões climáticos, resultando em uma frequência maior de eventos extremos do que no passado”, explica ao Jornal Midiamax.
El Niño
E essa mudança climática tem seus generais. Um deles é o El Niño, fenômeno que aquece as águas do oceano Pacífico ao longo da costa oeste da América do Sul. Thiago explica que esse aquecimento gera uma região de alta pressão sobre o centro do Brasil, onde está Mato Grosso do Sul, e pode causar episódios de extremo calor.
A última onda de calor enfrentada pelos sul-mato-grossenses começou no dia 27 de abril e só terminou no dia 13 de maio, com temperaturas 5°C acima da média por 17 dias. Esse bloqueio atmosférico também inibe a formação de nuvens e chuva e acabou influenciando toda a tragédia vivida pelo Rio Grande do Sul.
Desde 1990, três dos mais intensos fenômenos El Niño foram registrados, sendo o período de 2015-2016 o mais severo já registrado na história.
“As águas mais quentes do oceano impulsionam a evaporação, resultando em um aumento do vapor de água na atmosfera. Esse vapor adicional contribui para a intensificação dos fenômenos meteorológicos, os quais, quando combinados com outros fatores, podem gerar as catástrofes decorrentes de fenômenos atmosféricos”, explica o professor.
Onda de calor x Chuvas
Enquanto Mato Grosso do Sul era influenciado pela consequências do ‘General El Niño’, uma outra ‘General ZCAS’ saía da Amazônia em direção ao sul do Brasil. ZCAS é a sigla para Zona de Convergência do Atlântico Sul, que é conhecida também como “rios voadores de umidade”.
No Sul do Brasil, ela se encontrou com as frentes frias comuns na região para esta época do ano que vêm mais do sul do continente. “Isso provoca a rápida ascensão do ar quente e úmido para as camadas mais altas da atmosfera, desencadeando precipitações intensas”, diz.
“Devido ao bloqueio atmosférico sobre o centro do país, a frente fria não consegue avançar e fica estacionada na região Sul do Brasil, formando o que é conhecido como frente oclusa”, finaliza Thiago.
Ou seja, o Rio Grande do Sul sofreu uma combinação de fatores que propiciou as chuvas com muita intensidade e duração prolongada.
Chuva do RS vai chegar a MS?
Mas se em um lugar está chovendo muito e outro padece de chuva, é possível que a mesmo instabilidade que influencia um cause a precipitação no outro?
Segundo Thiago, a ZCAS se forma sobre a região central do Brasil, principalmente durante os meses de verão e é responsável por concentrar grandes quantidades de umidade vinda da Amazônia e do Oceano Atlântico.
Essa umidade é essencial para a formação de chuvas em MS, junto com sistemas frontais, brisas terrestres e marítimas, além de influências de massas de ar. “[…] dificilmente aqui na porção central do Brasil irá acontecer a confluência de fatores que resultou no grande acumulado de precipitação que aconteceu no estado do Rio Grande do Sul”, diz.
Conforme o professor, em MS, as mudanças climáticas tendem a intensificar os eventos de seca, tanto na duração quanto na intensidade.
O Governador Eduardo Riedel assinou no começo de maio decreto que declara estado de emergência ambiental em Mato Grosso do Sul, pelo prazo de 180 dias, devido às condições climáticas que favorecem a propagação de focos de incêndios florestais sem controle sobre qualquer tipo de vegetação acarretando queda drástica na qualidade do ar.
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