O torcedor do Flamengo passou a ver de forma mais palpável a construção do estádio rubro-negro na região do Gasômetro, zona central do Rio de Janeiro, depois da fala do prefeito Eduardo Paes a dirigentes do clube, sobre uma possível desapropriação do terreno que pertence a um fundo administrado pela Caixa.
As opiniões de quem vive e trabalha no local, porém, estão divididas.
A reportagem do ESPN.com.br foi até as redondezas do terreno no qual a diretoria vê viabilidade para erguer sua nova casa e perguntou a comerciantes e moradores o que pensam da possibilidade.
Não há um consenso sobre a chegada da arena. Enquanto uns enxergam que o projeto pode atrapalhar o trânsito do local, outros olham para a visibilidade que um projeto do tipo traria e, consequentemente, a chance de expandir o comércio e ajudar nas vendas.
Um dos entrevistados pela reportagem, há quase 40 anos trabalhando no local, enxerga com bons olhos o projeto. “Eu não tenho dúvida que vai ajudar. Eu acho que aqui está preparado. É completamente bem localizado, tem saída para todos os lugares. Acho que vai se dar muito bem aqui”.
O gerente do estabelecimento vizinho, porém, pensa que as cercanias do potencial estádio são muito pequenas para receber o público estimado para os jogos, com o trânsito se tornando um problema recorrente.
“Acho que é um pouco pequeno para um estádio aqui, deveria ser em um local com mais espaço. Aqui, ia ficar muito tumultuado em dia de jogo. Engarrafamento… na Avenida Brasil, então, ia parar tudo. Para o comércio melhoraria um pouco. Agora, o trânsito, eu acho que piora. Tem que melhorar muita coisa”, afirmou.
Outra questão levantada por uma moradora diz respeito a como a estrutura dos arredores é ruim em dias de chuva. “Eu acho que vai piorar. Primeiro lugar, o trânsito; em segundo, as ruas não têm ralo o suficiente. Enche tudo quando chove. Eu não acho (que iriam revitalizar), não acho que iria ajudar. Vai mais atrapalhar do que ajudar”.
Recentemente, a prefeitura inaugurou na frente do terreno do Gasômetro o Terminal Gentileza, uma forma de integrar BRT, VLT e as linhas de ônibus da região. Além disso, há certa proximidade do local com a estação de metrô e trem de São Cristóvão.
Segundo relatos, porém, isso não seria o suficiente. Um dos entrevistados alertou para a incapacidade de as ruas receberem o volume de carros que chegaria para os jogos. E isso já é um problema para ir ao próprio Maracanã.
“Eu não vejo o local com capacidade para guardar tanto carro. Apesar de a rodoviária ter o terminal ali, vai ficar bom para quem vier a pé. Mas, para quem vier de carro para São Cristóvão, vai ficar horrível”, falou.
“Já é muito complicado sair daqui em dia de jogos, para quem sair da Tijuca vai ser inviável. Eu mesmo fui para o jogo ontem, parei perto da rodoviária e fui andando. Eu acho que eles têm que viabilizar bastante a relação de onde guardar o carro”, completou.
Proximidade com estádio do Vasco gera alerta?
Um dos relatos ouvidos pela reportagem alertava também para o risco de conflitos entre torcedores de Vasco e Flamengo. A pé, a distância do terreno no Gasômetro até São Januário é de aproximadamente 2,7 km. Outros, porém, acreditam que um acerto no calendário dos clubes pode evitar esse tipo de problemas.
“É só não colocarem jogo (de Vasco e Flamengo) no mesmo dia, só ter essa coerência. No Rio já acontece isso, já é uma preocupação. Não dá para colocar um jogo do Vasco e um do Flamengo no mesmo dia, ainda mais com os dois em São Cristóvão. Fica muito mais fácil ter um conflito. Se colocar os dois jogando no mesmo dia não vai dar”, argumentou.
Ano eleitoral geral desconfiança sobre projeto
Muitos dos comerciantes e moradores locais desacreditam da construção do estádio. Os rumores envolvendo o Gasômetro existem há cerca de dois anos, mas o envolvimento mais próximo do prefeito Eduardo Paes com a ideia faz as pessoas pensarem que as declarações recentes possam servir mais para angariar apoio no pleito municipal de outubro.
“Eu pensei nesse caso, o prefeito está querendo se reeleger de qualquer forma. Mas esse lance do estádio do Flamengo já está acontecendo há bastante tempo. Não sei se São Cristóvão é o melhor local”, apontou um dos entrevistados.
Qual é o projeto de estádio do Flamengo?
Desde 2022, o terreno do antigo Gasômetro se tornou a alternativa mais viável e desejada pela diretoria atual.
O clube via no perfil de seus torcedores uma concentração de pessoas moradoras da região em volta do centro do Rio. Com a chegada do Terminal Intermodal Gentileza, o local ficou ainda mais atrativo por conta da maior oferta de transportes públicos.
Em entrevista recente ao site GE, o presidente Rodolfo Landim admitiu que foi testado um estádio com capacidade para 80 mil pessoas, o que o tornaria o maior do Brasil, com uma construção mais vertical.
“Quando foi testado, foi testado para uma capacidade de 80 mil pessoas, mas é claro que tudo isso levando em consideração algumas expectativas em relação a demandas de espaço de saída, por exemplo, para atender a legislação de Corpo de Bombeiros e uma série de coisas. Mesmo levando em consideração tudo isso, caberia um estádio de 80 mil, seria uma arena bem mais vertical”, explicou.
Flamengo e Caixa conversam na tentativa de estabelecer um valor em comum pelo terreno, que pertence a um fundo de investimentos administrado pelo banco público. A prefeitura, por meio de Eduardo Paes, por sua vez, já declarou que, se necessário, pode desapropriar o local para a construção do estádio.
Próximos jogos do Flamengo:
- Vasco (F) – 02/06, 16h (de Brasília) – Brasileirão
- Grêmio (C) – 13/06, 20h (de Brasília) – Brasileirão
- Athletico-PR (F) – 16/06, 16h (de Brasília) – Brasileirão