Espinha bífida: entenda o que é, tipos e tratamentos

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“Toda mielomeningocele é uma espinha bífida, mas nem toda espinha bífida é mielomelingocele.” É com essa frase que o neurocirurgião pediátrico Sérgio Cavalheiro, do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, começa a entrevista. Mas como assim? Ele explica: “As pessoas costumam confundir muito. Espinha bífida é um conjunto de malformações congênitas que se desenvolvem no bebê nos primeiros dias da gravidez. É uma espécie de ‘falha’ no desenvolvimento, mais especificamente localizada no final da coluna lombar, que é a última parte a se fechar. Então, quando ocorre esse problema, ela fica aberta.”

Segundo o especialista, existem dois tipos de espinha bífida: a oculta, mais comum e que não costuma causar grandes problemas, pois não há envolvimento da medula espinhal — tanto que, muitas vezes, passa despercebida —; e a cística (dividida entre mielomelingocele e meningocele), que é quando o bebê apresenta uma saliência nas costas, podendo levar a problemas como incontinência urinária, fecal e até paralisia dos membros inferiores.

CÍSTICA: MIELOMENINGOCELE OU MENINGOCELE

A cística possui ainda dois subtipos. Na forma mais leve, conhecida como meningocele, a saliência nas costas envolve apenas estruturas que protegem a medula espinhal, o que significa que a medula continua protegida dentro das vértebras, não representando riscos de comprometimentos neurológicos. “É uma má-formação das vertebras da coluna. Nesse caso, os sinais mais comuns são elevação acima do local, uma pinta, uma área mais escura ou pêlos no local, normalmente acima do bumbum. Mas pode aparecer em qualquer parte do trajeto da coluna”, esclarece o pediatra e neonatologista Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria e Academia Americana de Pediatria.

Já a mielomeningocele, a forma mais grave, a saliência não é revestida pela pele, ou seja, está completamente aberta. Como consequência, a criança pode desenvolver problemas neurológicos, pois a transmissão dos impulsos nervosos não acontece. Como a medula espinhal entra em contato com o líquido amniótico, pode acabar lesionando os nervos responsáveis pelo controle motor. Como resultado, a criança corre o risco de desenvolver dificuldades para controlar o xixi e o cocô e a musculatura dos membros inferiores, prejudicando a locomoção e favorecendo infecções urinárias de repetição. Além disso, frequentemente, a mielomeningocele está relacionada à hidrocefalia, que é o aumento de líquido cefalorraquidiano no cérebro.

A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO

O diagnóstico da mielomeningocele costuma ser feito entre a 14ª e 16ª semana de gestação, por meio de um ultrassom simples, de rotina. “Aspectos do crânio e cerebelo também dão sinais de alterações”, explica o neurocirurgião. “A alteração acontece, geralmente, na terceira semana de gestação. A mulher nem sabe que está grávida, mas o problema já está lá. O único tratamento é fechar essa abertura para proteger o tecido nervoso”, completa.

Há algum anos, os médicos esperavam o bebê nascer para fazer o procedimento. No entanto, estudos revelam que quando a correção é realizada com o bebê ainda na barriga da mãe, os resultados são superiores. Por outro lado, a cirurgia é considerada bastante invasiva, pois é preciso abrir o útero e expor o feto, aumentando os riscos de complicações para a mãe e o bebê. “Há ainda um risco muito grande de a mãe entrar em um trabalho de parto prematuro. Por isso, é fundamental determinar um momento ideal — em que o bebê não seja tão prematuro. A maioria dos estudos apontam entre 24 e 26 semanas, assim, o feto não é tão pequeno e o útero não tão grande. Se o bebê nascer, já existem chances de sobrevivência”, explica Sérgio.

Segundo o especialista, quando a operação é realizada antes das 26 semanas, as chances de o bebê desenvolver hidrocefalia também são menores. “A hidrocefalia destrói o tecido cerebral e leva a alterações de inteligência e morticidade. O ‘gol’ de fazer a cirurgia ainda dentro do útero é justamente evitar essa complicação grave”, completa. Recentemente, pediatras brasileiros desenvolveram uma nova técnica, menos invasiva, que é capaz de fazer a correção ainda no útero da mãe, mas sem a necessidade de abrir o útero. “Agora, com a difusão da cirurgia, estamos treinando médicos em toda a América Latina. Fomos praticamente os pioneiros e essa difusão é um avanço neurofetal”, disse Sérgio.
No entanto, de forma geral, as sequelas vão depender dos nervos prejudicados. “O grau de malformação é que vai determinar os déficits motores. Na maioria dos casos, o comprometimento acontece na parte baixa da coluna, causando incontinência urinária, fecal, problemas de ereção e sexuais; então, mesmo após a cirugia, é extremamente importante que seja realizado um acompanhamento rigoroso para avaliar se a criança está conseguindo fazer xixi direitinho e uma avaliação ortopédica, para mapear possíveis deformações. Essa doença requer um acompanhamento multidisciplinar”, disse.

Infelizmente, o problema não é tão raro. “Já realizei mais de mil operações em trinta anos de carreira. Somente dentro do útero, são trezentas. É frequente, sim. Em São Pauo, a incidência é de um caso a cada mil bebês nascidos”, diz Sérgio. Segundo os médicos, as causas variam. “Causas ambientais, relacionadas à contaminações, como por poluição, ou causas genéticas representam cerca de 3% dos casos”, completa. Já o pediatra e neonatologista Nelson Douglas Ejzenbaum, afirma que normalmente, acontece com gestantes que não usaram o ácido fólico durante o pré-natal. “É por isso que recomendamos uma suplementação de 0,4 mg diária para mulheres grávidas. O ácido fólico diminui as chances de malformações. Em pessoas que já tiveram filhos com esse problema, a dose deve ser ainda maior”, orienta.

Fonte: Crescer

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