Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentam relacionar o indiciamento dele por parte da Polícia Federal ao “medo” de ele retornar às urnas em 2026. Inelegível até 2030, Bolsonaro foi indiciado pela polícia, na quinta-feira (21), no inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado após o resultado das eleições presidenciais de 2022. Outras 36 pessoas também foram indiciadas no relatório enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Bolsonaro se defendeu afirmando que o ministro Alexandre de Moraes faz “tudo o que não diz a lei” e que vai esperar a manifestação da PGR (Procuradoria-Geral da República). “O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei”, disse o ex-presidente.
Os apoiadores do ex-presidente classificaram que a ação foi por “medo” das próximas eleições. “Na democracia relativa, que vivemos hoje, na democracia de faz de conta, em que inventaram também um golpe fake, sem armas, é claro que já esperávamos que o alvo principal seria o presidente Bolsonaro. Aquele que eles têm medo, medo de concorrer, novamente, na urna, que eles tanto defendem e dizem que é segura, de concorrer na próxima eleição”, disse a deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC).
O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), declarou que o indiciamento é uma “reação à eleição” do republicano Donald Trump para a Presidência dos EUA.
“O desespero bateu, a volta de Bolsonaro é uma realidade e, agora, querem reagir, querem sapatear, querem continuar contando a história e o enredo que o presidente Lula já falou, que tinha que montar uma narrativa”, pontuou o parlamentar.
Filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) reforçou o pensamento. “O que acontece nos EUA, acontece no Brasil”, declarou o deputado, após chamar o relatório da PF de “porcaria”. Trump é alvo em diversos processos nos EUA, incluindo um sobre a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
“Relatório pífio”
Senador pelo PL, Magno Malta (ES) fez críticas à investigação policial. “Alexandre Criativo de Morais (sic), parabéns pelo desfecho de sua ‘obra’, onde formou criativos que, juntamente com os criadores de narrativas, resultaram nesse pífio relatório que tenta incriminar quem nenhum crime cometeu”, escreveu o parlamentar nas redes sociais.
Líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ) destacou que, para se caracterizar uma tentativa de golpe, é “necessário que tivesse uma execução que tenha sido frustrada”. “Não me parece que o presidente Bolsonaro ou Valdemar [Costa Neto, presidente do PL] em momento algum tenham concordado com qualquer ideia do tipo”, declarou ao R7.
Para o parlamentar, até o momento, “trata-se da construção de uma narrativa, que iniciariam objetivando a inelegibilidade e a prisão de Bolsonaro, o maior adversário de Lula e do governo instalado”.
Ex-ministra no governo Bolsonaro, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que o ex-mandatário é um “democrata”. “Se alguém em volta do Bolsonaro falou ou pensou diferente dele, que responda por seus atos. Mas não tentem imputar isso a um democrata como nosso eterno presidente”, destacou a senadora.
Também ex-ministro de Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) disse ter “certeza da inocência do ex-presidente”. “Há coisas a respeito das quais tenho certeza e uma delas é sobre a inocência de Bolsonaro”, escreveu nas redes sociais.
O senador Marcos Rogério (PL-RO) levantou suspeitas sobre as provas contra Bolsonaro e afirmou que um indiciamento só deve ocorrer quando “há, de forma concreta, a presença de indícios de prática criminosa”.
Ele chamou as acusações de “especulações” e disse haver a necessidade de mais apuração. “O que se conhece são especulações que alimentam suposições de participação em práticas que, ao que se sabe, ainda estão pendentes de maior apuração. Pelo que foi divulgado até o momento, o indiciamento do presidente está muito fundado em afirmações genéricas e superficiais”, declarou.
Entenda
Segundo a PF, as provas contra os investigados foram obtidas por meio de “diversas diligências policiais realizadas ao longo de quase dois anos, com base em quebra de sigilos telemático, telefônico, bancário, fiscal, colaboração premiada, buscas e apreensões, entre outras medidas devidamente autorizadas pelo poder Judiciário”.
O indiciamento é um ato formal feito pela autoridade policial durante a investigação de um crime. Ele ocorre quando, com base nas provas coletadas, os investigadores identificam uma pessoa como suspeita principal da prática de um delito e formaliza essa suspeita no inquérito.
A Polícia Federal identificou que os investigados se estruturaram por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas e a constatação da existência de seis grupos:
- Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;
- Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado;
- Núcleo Jurídico;
- Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;
- Núcleo de Inteligência Paralela;
- Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas
“Com a entrega do relatório, a Polícia Federal encerra as investigações referentes às tentativas de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito”, disse a corporação.